Certamente já ouviram falar da máquina fotográfica do momento, A Fujifilm Finepix X100. Quem se interessa por estas coisas também já deve ter visto e lido dezenas de artigos a falar sobre ela. Achei que mesmo sendo uma máquina muito falada ainda há algum espaço para escrever algo. Em vez de focar o artigo nas características técnicas da x100 vou tentar mostrar o que tem sido a minha experiência com esta máquina fotográfica.
O meu tipo de fotografia
Esta é a parte mais difícil, definir o tipo de fotografia que faço. Por vezes faço fotografia de rua, gosto de fotografar pessoas de frente, meio corpo, sem pedir. Quando na rua gosto também de tirar partido de silhuetas e de sombras. Gosto de fotografar natureza, desde macros de insectos até paisagens, de preferência com água. Gosto de tudo o que é simples, fotografo coisas simples, quanto mais simples melhor, desde que tenho qualquer coisa que me chame à atenção.
Antes de comprar
Tentei perceber se realmente tinha a necessidade de mais uma máquina para juntar à Canon 7D e à analógica Canon A-1. O grande problema da 7D é o tamanho, se juntarmos algumas lentes acabamos por andar com uma tonelada às costas. Sendo grande também não é discreta, sinto-me mal cada vez que vou ao saco tirar a máquina para fazer uma foto simples de registo e toda a gente começa a olhar para mim. Se não olham quando a tiro do saco olham quando disparo.
Gosto de andar sempre com uma máquina fotográfica comigo, normalmente ando com duas, mas sempre gostei de ter uma alternativa mais leve. Para fazer fotografia de rua gosto muito da 7D, mas para algumas situações uma máquina mais pequena e discreta é sempre bem vinda. A A-1 é uma maravilha de usar e adoro os resultados do filme, mas é filme e não é versátil. Não faz sentido fazer fotos “normais” em filme, se fosse rico e maluco talvez…
Nos dias em que decidia carregar apenas uma máquina a escolha recaía quase sempre pela 7D com a 28mm f/1.8 ou pela A-1 quando o objectivo era mesmo gastar rolo e fazer fotos giras.
Olhando para os artigos a falar bem desta nova x100, com um look clássico e com um desempenho(há quem diga performance) ao nível das melhores câmeras digitais do momento fiquei na dúvida se esta máquina poderia ter um lugar ao meu lado no dia a dia. Depois de ler muito sobre ele cheguei às seguintes conclusões:
Tamanho: Não é uma máquina compacta, a titulo de exemplo já pensei em comprar a Canon S95, mas é muito mais pequena que a as que tenho agora. É ideal para andar sempre comigo, se carrego normalmente duas câmeras para todo o lado, esta serve. (++)
Look: Retro. Gosto de coisas modernas, mas também gosto de coisas mais antigas bem feitas. A x100 é uma mistura das duas e posso dizer que gosto. Se não tivesse uma máquina de filme já com uns 30 anos talvez fosse diferente, mas gosto. O aspecto da máquina desperta interesse em muita gente(na rua) pelo aspecto retro, mas, também nos deixa mais à vontade porque não é um canhão. (++)
Imagem: Toda gente dizia que a qualidade de imagem é muito boa ao nível das melhores DSLR. Tem um sensor APS-C que é semelhante ao que estou habituado. O comportamento em pouca luz também era apontado como um ponto forte. Vi muitas imagem feitas por outros, custava-me a acreditar mas… (++)
Características técnicas: Tecnicamente é uma máquina muito interessante, algumas coisas boas como por exemplo o filtro ND , e alguns problemas também, com muita gente a falar mal do sistema de foco manual. Olhar para a folha de característica não fez decidir nada. (=)
Lente: Quanto há qualidade não tinha dúvidas. É fixa, não dá para trocar. Por um lado estamos limitado a 23mm(35mm) por outro lado não há mais investimentos em lentes. Se a minha escolha na 7D, em caso de dúvida recaía na 28mm f/1.8 uma lente 23 f/2 não seria muito diferente. (=)
Preço: É cara. Nem um cartão SD vem com a máquina. É cara. Por mais contas que se fizer é sempre cara. Tenho “coisas” cá em casa bem mais avançadas(MB Air) e maiores a custar quase o mesmo. (–)
Resumindo: Uma máquina fotográfica muito interessante, com uma qualidade de imagem ao nível de uma DSLR com que eu seria capaz de me dar bem, mas seria um investimento muito grande. Pensei então: “Tenho que testar uma”!
Test drive
Como tenho um amigo que compra estas coisas todas logo nos primeiros tempos, combinei com ele um test drive da x100. A ideia era dar um passeio nas ribeiras do Porto e Gaia antes do por do sol. Alfândega até ao cais de Gaia e voltar em cerca de duas horas e cerca de 100 fotos no cartão.
Primeiro toque: Bem construída, tamanho agradável e muito bonita. Começamos bem. Depois de muita conversa comecei a perceber a forma de trabalhar com a máquina e tentei encontrar uma configuração ao meu gosto. Metade do tempo foi a tentar perceber a melhor forma de a segurar na mão e como colocar a fita para a levar ao pescoço.
Tinha dois objectivos principais: Testar o sistema de focagem e o viewfinder. Ao fim de algum tempo já tinha a X100 ajustada ao meu gosto e comecei a fazer fotos, sempre a comutar entre EVF e OVF, para ver com qual me sentia melhor. Tentei sempre fazer fotografias difíceis para a máquina: pessoas em movimento, sobras, grandes contrastes, contra luz, cores vivas, etc . Tive alguma dificuldade a comutar para o modo de visualização da fotos, a certa altura deixei de o fazer. Normalmente não olho imediatamente para as fotos que faço. Aprendi a fazer isso com A-1 para não fazer figura de parvo a olhar para a tampa do filme.
Percebi que de uma forma geral o OVF é mais agradável de usar, mas muitas vezes temos que usar o EVF para a ajudar a focar. É coisa que se aprende com a prática. Naquele dia encontrei o OVF com o ideal para a maior parte do tempo, o EVF só quando é necessário.
Falta dizer que durante as duas horas a máquina congelou umas 6 vezes. Por vezes, ao fim de fazer uma foto alterava a abertura ou a compensação de exposição e ela congelava completamente. Retirar a bateria foi a única forma de a recuperar.
O resultados do test drive
Test drive da Fujifilm X100, uma mistura de clássico com moderno
Fotografei sempre em RAW. Depois de receber os ficheiros importei directamente para o LR e olhei para o que tinha conseguido. Todas as fotos foram experimentais, por isso não estava à espera de imagens fantásticas, apenas queria perceber como a x100, e eu, conseguia lidar com aqueles tipos de fotografia.
Enquadramentos: Os enquadramentos que fiz neste test drive foram apenas para fins de teste, mas alguns resultaram bastante bem. É fácil enquadrar com o OVF e a correcção do erro de paralaxe funciona bastante bem. As fotos saíram como estava à espera. A informação sobreposta no OVF quando se coloca na vertical desaparece ao usar óculos polarizados!
Luz: Talvez o melhor que a x100 faz, trata a luz de uma forma como nunca vi. A gama dinâmica é muito boa, e aproxima-se dos resultados que encontro na fotografia de filme. Muito bom mesmo. Nas situações de luz difíceis parece fazer o impossível e consegue registar bem toda a diferença de luz.
Em condições difíceis de luz a X100 consegue estar à altura!
Cor: Não posso dizer que seja uma cor fiel, tem umas cores muito próprias, tem uma assinatura, e eu gosto disso.
Representação de cores muito particular. Com identidade.
Ruído: Não posso falar muito porque não se vê! Até IS02000 é muito reduzido, a 3200 é perfeitamente aceitável. Esta máquina fotografa de noite, está uns pontos acima da minha referência que é a 7D!
Numa foto a ISO3200, já depois do por do sol não se encontra presença de ruído.
Foco: É bastante rápido e normalmente preciso. Ao perto falha bastante. Com a passagem para EVF as coisas melhoram. Não consegui perceber o funcionamento do foco contínuo. O foco manual não é tão mal como se diz por aí, e a escala com os metros à distância de foco é simples de usar e parece funcionar bem.
O foco funciona bem depois de saber como. Neste caso teve que ser com EVF e modo Macro.
Nitidez: Pelo que vi, melhor que qualquer lente zoom, muito parecida com a minha Canon 28mm f/1.8.
Um lente bastante nítida, na abertura máxima não o é tanto.
Partilhei o conjunto completo de fotos escolhidas que pode ser visto aqui.
Fiquei realmente impressionado com os resultados, nomeadamente ao nível da gama dinâmica de com desempenho em pouca luz. Agradou-me também o toque especial de algumas fotos, parece que a máquina assina as fotos, tem identidade.
A decisão
Tenho tentado aplicar uma regra contra o consumismo que é esperar algum tempo antes de comprar algo. A partir da altura em que achei que gostava de ter uma x100 esperei alguns dias.
Com o teste que lhe fiz e depois de perceber claramente que a máquina podia substituir, na maior parte do tempo, a minha artilharia pesada achei que a devia comprar. O medo de ter resultados com menos qualidade de imagem desapareceram rapidamente. Mesmo assim continuava a achar a máquina cara. Entretanto consegui um pequeno desconto que praticamente dava para comprar um cartão de memória e uma bateria extra. Já tinha passado o tempo de espera suficiente para validar a minha “necessidade”, avancei.
A caixa
No interior da caixa principal, toda preta, em forma de cubo, com Fujifilme e x100 escrito a prata, encontrei duas outras caixas: Uma de cartão preto com todos os acessórios e cabos e manuais; outra muito mais requintada, em cartão grosso forrado a pele(falsa) com um interior em cetim, com a x100 a brilhar lá dentro com se de um jóia se tratasse . Sorri
A minha configuração
Levei algum tempo a perceber as manhas e truques da x100 e a encontrar a melhor configuração para mim:
OVF/EVF: A regra é usar OVF. É espectacular, limpo e com a informação necessária. Para focar a curta distância e/ou com pouca luz activo o EVF, não é tão directo com o OVF mas funciona muito bem. Em alguns casos activo o modo Macro para focar ao perto.
Macro: Acho que não dá para fazer Macro a sério, este modo é útil para focar ao perto. O modo macro só funciona com EVF.
Prioridade à abertura: É o modo que tenho usado mais, com alguma tendência para as extremidades. Ou ando a f/2, f/2.8..ou então passo para A(automático).
ISO: Auto, com limite. Normalmente com limite em 2000 ou 3200. Ajusto também a velocidade mínima para 1/60. Perfeitamente aceitável!
Preview: Nada. Não preciso, vejo as fotos em casa. Estou habituado ao filme e também é assim. Na verdade ao fim de uma sequência de fotos vou ver o que fiz, mas não o faço em todas as fotos.
Filtro ND: ON de dia, OFF com pouca luz.
Silent mode: Sempre ligado.
Flash: Desligado, o silent mode já faz isso.
RAW: Sim, só RAW e com todas as definições standard.
Bateria: É obrigatório ter uma extra no bolso.
Alguns ajustes nas opções que permitem ter a máquina sempre pronta a disparar e a funcionar o mais rápido possível, nem que gaste mais bateria.
Depois do primeiro dia e de me ver atrapalhado com a fita de a pendurar ao pescoço, substitui-a por uma de uma point-and-shoot, daquelas de 15cm que prendem só de um lado para colocar no pulso. Funciona, perfeito!
Fotografar
Não tive ainda grandes oportunidades para fotografar, no mesmo fim de semana andei por duas vezes à volta da Casa da Música e dei duas voltas na baixa do Porto. Para além disso fotografei numa tarde de muito calor numa vila do Minho e passei pela paisagem protegida do Corno de Bico. Tive também oportunidade de fotografar de noite na Viagem Medieval de S. M. da Feira.
Arcos de Valdevez
Para o tipo de fotografia de rua que gosto de fazer é complicado conseguir um enquadramento de meio corpo sem estar a menos de dois metros da pessoa, mas não é impossível. A máquina é muito discreta e completamente silenciosa. Aquele aspecto retro faz confusão às pessoas que a olham de frente e isso dá-nos uma vantagem. A verdade é que me sinto muito mais à vontade para fotografar pessoas na rua.
Para a rua a X100 é discreta e silenciosa
Para paisagem urbana e de natureza não é preciso ter cuidado com nada, é enquadrar e disparar. Tenho alguma tendência em baixar ligeiramente a compensação de exposição, mais quando fotografo em pouca luz. Quando há pouca luz a máquina regista com demasiada luz, na minha opinião, basicamente parece de dia e já é quase noite .
Casa da Música
Na fotografia de natureza os resultados são muito interessante, sempre com cores bastante vibrantes, mesmo na abertura máxima. Lembro que uso sempre o filtro ND de dia.
Para os detalhes e coisas simples só há duas regras: se for ao longe é disparar normalmente. Se for ao perto comutar para EVF e talvez macro.
Modo Macro
Fiz alguns retratos em interior e gostei, gostei principalmente do bokeh e das cores. É uma pena esta distância focal dar um aspecto “estranho” às pessoas quando são fotografadas muito perto.
De Noite. Rebenta com tudo! Já disse e volto a dizer, é melhor que a maior parte das DSLR que por aí andam. Custa-lhe um bocado a focar, mas já sabem, muda-se para EVF e siga.
Viagem medieval SM Feira
Reparem nas luzes "fortes" no topo da imagem. Eu não conseguia ver a areia do chão olho nu, por isso ficou assim!
Ao fim de pouco mais de uma semana com a máquina estou super satisfeito e tem sido praticamente a única câmera que usei. Ah, a minha só congelou uma vez, e foi antes da actualização do firmware.
Coisas Giras
Panoramas: Podemos fazer panoramas directamente. Nem todos ficam bem, mas quando ficam bem ficam bem! Muito útil.
Panorama directo da X100 - paisagem protegida do Corno de Bico
Simulação de filme: Dá para converter a partir dos RAW as fotos e gerar jpegs com simulação de filmes da Fuji, e logo eu que gosto tanto dos filmes da Fuji. Temos à disposição vários BW, Provia, Astia, Velvia e também sepia.
Conversão directa para BW
Conversão directa para Velvia
Edição: Ainda podemos fazer edição básica na própria máquina, como ajustes de exposição, crop e afinações de cor.
- Cortada, enquadrada e convertida para BW na X100
Resumindo
A x100 é uma máquina fotográfica com um preço elevado mas que consegue substituir grande parte das vezes as máquinas que uso. Não fico prejudicado ao nível da qualidade de imagem, em alguns casos até ganho com isso. É discreta e silenciosa, é também muito bonita para quem a sabe apreciar.
Para lá das questões práticas e técnicas está a forma como sentimos a máquina, fotografar com a x100 dá um gozo enorme. Sinto-me à vontade a fotografar em qualquer lado e como é pequena posso andar sempre com ela.
Nâo estou nada arrependido de a ter comprado, já aprendi muito nestes dias e já obtive fotos que muito me agradam, isso não tem preço.
A 7D e as lentes prime vão continuar comigo, continua a ser uma máquina sem rival.
Sinto que me vai fazer editar menos as fotografias para conseguir um “ar” especial, a x100 já as faz assim.
Tinha muitas mais fotos para colocar aqui, mas o artigo já vai longo demais. Isto se alguém chegou até aqui